Chalet da Condessa | Os Espaços
- ph3020
- May 30
- 5 min read
O Chalet
De inspiração suíça, o chalet procurava representar o imaginário da «casa de recreio na montanha» associada a momentos de lazer e integrada na natureza. No entanto, a sua configuração geral aproxima-se mais da tipologia americana de casa em madeira, designada por Carpenter Gothic ou Rural Gothic. Assumindo um carácter privado, o Chalet e o Jardim criam uma cenografia que revela bem a sensibilidade do espírito romântico de D. Fernando e da Condessa d’Edla, bem como a sua visão artística e estética.
Localizado na zona ocidental do Parque da Pena, o Chalet mantinha com o Palácio uma importante relação visual e criava um enquadramento cénico, acentuado pela proximidade de um dramático conjunto de blocos de granito, as Pedras do Chalet, e por um vale sobranceiro. Da varanda do edifício via-se o mar, as Pedras e o Palácio.
O Chalet foi construído entre 1864 e 1869. O edifício possui uma planta térrea retangular em alvenaria de pedra e cal, na qual se apoia um sistema de arcos de alvenaria que suportam o piso superior, com planta em cruz. A varanda, constituída por lajes de pedra calcária encastrada na alvenaria, circunda todo o primeiro piso. A cobertura, em telha cerâmica, possuía um coroamento decorativo e beirado revestidos a cortiça. Os vãos de todo o edificado são do tipo porta-janela, permitindo uma ligação para o exterior: no piso térreo para o jardim envolvente e no piso superior para a varanda.
A relação do edifício com a natureza é reforçada, por um lado, pela aplicação de materiais naturais como a cortiça, no emolduramento dos vãos, varanda, platibanda, cachorrada, sanca e ainda nas trepadeiras fingidas (onde se entrelaçam trepadeiras naturais) e, por outro, através da pintura que fingida de ripas de madeira horizontais na alvenaria dos alçados exteriores, conferindo a ilusão de se tratar de uma construção em madeira. Nesta construção singular, quer do ponto de vista tipológico quer decorativo, verifica-se que a imagem exterior dos alçados se sobrepôs à organização interna e a qualidade construtiva foi preterida a favor de acabamentos decorativos de melhor qualidade técnica e artística.
A organização interna do edifício faz-se em torno de três núcleos:
Zona de Serviço (piso térreo) - Área composta por divisões, de serviço e privadas, para os criados e pela cozinha.
Zona social (piso térreo) - Área dominada pela escadaria central e o vestíbulo nobre, a partir de onde se distribuem as restantes divisões: a Sala de Jantar e a Sala de Estar (Sala das Heras).
Zona privada (piso superior) - Área onde se encontram os aposentos privados do casal: o quarto, as salas de toilette de D. Fernando e da Condessa e o guarda-roupa.
Creditos - Luís Duarte
O Jardim da Condessa
O jardim de feição romântica tirava partido das diferentes vistas sobre o Palácio da Pena, o Castelo dos Mouros, a Cruz Alta e o mar, bem como de elementos naturais como as Pedras do Chalet. Foi introduzida uma coleção botânica com mais de 200 espécies, que reúne vegetação autóctone e exótica oriunda de diferentes partes do mundo, num espaço repleto de recantos, caminhos, bancos e miradouros, tais como:
Feteira da Condessa: Recebeu este nome para se distinguir da Feteira da Rainha (batizado em honra da Rainha D. Amélia). Localizada a nascente, constitui a primeira coleção de fetos no Parque da Pena e é percorrida por uma linha de água, que forma pequenos lagos e cascatas.
Pérgola ou Ponte Nova: Marca uma das entradas no jardim da Condessa para quem vinha do Palácio da Pena. Trata-se de uma ponte rústica coberta por uma estrutura de sombra decorativa em madeira.
Pedras do Chalet: Dominando a delicadeza do jardim, um conjunto monumental de blocos de granito, implantados no ponto mais alto próximo do chalet, criam um importante elemento cénico do jardim. Percorrendo um labirinto de pedra e musgo, acede-se a um miradouro, de onde se pode avistar o Palácio da Pena.
Adjacente ao Jardim da Condessa, encontram-se as estruturas da Quinta de Pena, local que aliava a função de produção agrícola para consumo interno e de lazer. Os animais da quinta e os edifícios de apoio compunham um cenário pitoresco ao estilo Ferme Ornée (quinta ornamental), onde se encontravam estruturas como:
Abegoaria: Estrutura anterior à intervenção paisagística de 1864-69. Foi recuperada em 2012, tendo-se acrescentado cavalariças para os cavalos de trabalho e de passeio.
Estufas: Complexos de edifícios destinados à aclimatização das espécies exóticas ornamentais introduzidas no jardim.
Aviário: Estrutura onde D. Fernando mantinha uma coleção de aves exóticas. A cúpula aligeirada por vasos de cerâmica é um exemplo das que o Barão de Eschwege idealizou.
Coelheira: Edifício ornamental moderno inspirado no Chalet.
O legado
D. Fernando morreu a 15 de dezembro de 1885, sendo sepultado ao lado da Rainha D. Maria II, no Panteão da Dinastia de Bragança, no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.
Segundo o testamento, datado de 1885, D. Fernando expressou a vontade de entregar o Parque e Palácio da Pena à Condessa, pediu a D. Luís que a protegesse e que permitisse a manutenção da sua residência no Paço das Necessidades, onde habitualmente habitava. Estas cláusulas causaram críticas e protestos injuriosos, abrindo-se nos jornais apaixonada polémica. Defendia-se a nulidade do testamento, afirmando-se que o disposto não existia no primeiro documento redigido em 1880. Uma das grandes questões prendia-se com a Pena. Na altura, o Palácio e o enquadramento paisagístico já tinham assumido expressão ao nível nacional e a sua transferência para a propriedade da Condessa foi vista como algo inaceitável. A carta lei de 25 de novembro de 1889, assinada já no reinado de D. Carlos, veio resolver a controversa sucessão, autorizando o governo a adquirir os bens imóveis de D. Fernando em Sintra e permitindo o usufruto da coroa.
Após um longo processo judicial, a Condessa acabou por vender a propriedade ao Estado Português com usufruto de residência, tendo rescindido este direito em 1904. Faleceu em 1929 no seu Palacete na Rua de Santa Marta, em Lisboa. Seguindo a sua vontade foi sepultada num jazigo no cemitério dos Prazeres desenhado pelo arquiteto Raul Lino (também ele um apaixonado por Sintra). Este representa características da Serra de Sintra e tem uma cruz no topo, réplica da que se encontrava na Cruz Alta.
Depois de 1904…
Em 1911, em sequência da Implantação da República, o Parque e o Palácio foram separados, passando a estar sob a alçada de ministérios distintos, facto que se prolongou até 2000. Cada estrutura governativa tinha a sua visão e objetivo para o espaço à sua guarda, o que levou à degradação de todo o conjunto. Ao contrário do Palácio, aberto quase de imediato ao público para visitas, o Chalet foi utilizado pontualmente.
Em 1995, a Serra de Sintra é classificada Património da Humanidade pela UNESCO, na categoria de Paisagem Cultural, e iniciou-se o Plano de Recuperação do Parque da Pena, que incluiu um minucioso levantamento arquitetónico do Chalet, um projeto para o seu restauro e a colocação de uma cobertura provisória para suster a sua degradação. O Plano foi posto em prática em 1996, mas interrompido pouco depois.
No verão de 1999, um incêndio praticamente destruiu o chalet, tendo desaparecido toda a estrutura interior de pavimentos, tetos, escadas e paredes divisórias em madeira. Pouco depois, outro incêndio destruiu também a Abegoaria da Quinta da Pena.
A Parques de Sintra - Monte da Lua, S.A. iniciou a recuperação do edificado e do jardim em 2007, reconstruindo o chalet e recuperando a envolvente botânica. Em 2013, foi atribuído a este projeto o Prémio da União Europeia para o Património Cultural – Europa Nostra, na categoria de Conservação.