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Monserrate | A História

A Serra de Sintra sofreu uma profunda alteração no século XIX, quando a paisagem natural deu lugar a um património cultural, luxuriante e heterógeno, fruto da intervenção na Natureza exercida por um conjunto de homens sob o espírito do Romantismo. Conforme a origem dos agentes dessa intervenção, podemos reconhecer variantes do movimento romântico europeu em Sintra, sendo os exemplos mais emblemáticos a influência de raiz germânica que encontramos no Parque e Palácio da Pena, sob orientação do rei-consorte D. Fernando II, e o caso de Monserrate, marcado por uma influência inglesa.


A história de Monserrate é rica e começa muito antes desta influência inglesa: no século XVI, a propriedade pertencia ao Hospital de Todos os Santos, em Lisboa, de onde obtinha rendimentos e produtos frescos para o seu abastecimento e consumo. O nome deste local deve-se à construção da ermida de Nossa Senhora de Monserrate, em 1540, por vontade de Frei Gaspar Preto, influenciado pela visita feita ao eremitério beneditino de Monserrate, em Espanha. No início do século XVII, a propriedade foi primeiro arrendada e, mais tarde, adquirida pela família Melo e Castro, sendo vinculada aos seus bens através de um morgadio que impedia a sua venda. Conhece-se pouco acerca da quinta durante este período, contudo, é possível que o investimento em construções e jardins tivesse sido muito reduzido na medida em que a família residia em Goa, onde exerceu importantes cargos na administração do Estado da Índia.


O Terramoto de 1755 devastou o local, tornando inabitáveis os edifícios que ali existiam, em particular, a capela dedicada a Nossa Senhora de Monserrate.


Em 1789, foi arrendada a Gerad De Visme (1726-1797) com a condição de reedificar a habitação principal e reparar os edifícios afetados pelo terramoto de 1755, bem como aumentar os pomares. A sua chegada a Monserrate inaugurou a longa influência da cultura inglesa nesta parte da Serra de Sintra, bem como a introdução da marca do Romantismo na região sintrense.


O palacete mandado erigir por Gerard De Visme seguiu o modelo de um castelo em estilo neogótico, construído entre 1790 e 1793. A casa principal e os edifícios de apoio apresentavam características do primeiro revivalismo gótico inglês integrados em estruturas enraizadas na cultura clássica dominante até final do século XVIII. A planta mantém um modelo clássico, enquanto elementos como os arcos das janelas ou os muros de suporte acastelados seguiam uma matriz medieval.


O palacete foi construído no alto da colina, onde se encontrava a antiga capela de Nossa Senhora de Monserrate, reconstruída num outro local, para não ferir as suscetibilidades dos devotos. Infelizmente, desconhece-se se esta terá alguma correspondência com edificações atualmente existentes na propriedade. Paralelamente, ampliou o terreno e, possivelmente, acrescentou algumas plantas ornamentais.


Gerard De Visme regressou a Inglaterra, em 1794, data em que subarrendou a propriedade a outro inglês William Beckford (1760-1844). É possível que o desejo deste fosse adquirir Monserrate, no entanto tal não aconteceu e por esse motivo não terá investido nela de forma significativa. A sua última estadia em Sintra terá ocorrido entre 1798 e 1799 e, entre esta data e 1807, ano em que o contrato de arrendamento terminou, a propriedade foi votada ao abandono e entrou em declínio.






Entretanto, Sintra mantinha-se no roteiro de viagem dos românticos europeus e, em 1809, foi a vez do poeta do movimento romântico, Lord Byron (1758-1824), visitar Monserrate: no poema Childe Harold’s Pilgrimage, atesta o seu deslumbramento pelo local, considerando-o “o primeiro e mais lindo lugar deste reino”.


A passagem de William Beckford e as palavras de Lord Byron permaneceram vivas nas memórias de quem visitava o local, atribuindo-lhe uma aura de prestígio e romance, como a nomenclatura de vários locais associados a Beckford atestam.


Francis Cook chegou a Lisboa em 1841 e, quando visitou Sintra, a fama de Monserrate já estava há muito ligada à memória de Beckford. Em 1856, tornou-se locatário da propriedade e, sete anos mais tarde, após a extinção da lei do vínculo e do morgadio, conseguiu adquirir a quinta à família Melo e Castro. Em 1858, encomendou o projeto para a reconstrução da casa principal aos arquitetos James Thomas Knowles, pai (1806-1884) e filho (1831-1908), mantendo na generalidade, a configuração atual do parque e do palácio. No parque foram introduzidas diversas espécies, de várias partes do mundo, numa coleção eclética e exótica e o palácio neogótico de De Visme foi transformado, mantendo a planta e a estrutura principal, mas a decoração interior e exterior foi totalmente alterada. Monserrate espelha o que se estava a fazer em Inglaterra, sendo por isso uma casa integralmente alinhada com o gosto e a estética da Inglaterra vitoriana, mas construída em Portugal. O interior foi recheado com as coleções de arte de Cook e mobiliário exótico, em conjugação com os estuques ornamentados com motivos naturalistas nas paredes, dando deste modo continuidade, no interior, do imenso jardim invulgar que o rodeava.


Após a morte de Francis Cook, em 1901, o programa de Monserrate continuou, de modo mais ou menos regular, com os seus descendentes. No entanto, em 1929, em sequência de problemas de saúde e provocados pela crise económica mundial, o seu neto, Herbert Cook (1868-1939), decidiu vender as propriedades da família em Sintra. Esta venda concretizou-se já no tempo do bisneto de Francis Cook, Francis Ferdinand Cook (1907-1978), em 1947, a Saúl Sáragga, que tinha a intenção de lotear a propriedade, projeto recusado pela Câmara Municipal de Sintra. O Governo Português adquiriu a propriedade em 1949.


O Parque e Palácio de Monserrate foram classificados pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade, em 1995 e, cinco anos mais tarde, passou a ser gerido pela Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A., que empreendeu uma profunda intervenção de reabilitação de coberturas e fachadas, a instalação de novas redes de infraestruturas, o todo permitindo a reabertura do palácio em 2010 e o consequente restauro dos interiores, que decorreu até 2016.

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